sábado, 26 de dezembro de 2009

TRANS BORDADO DE FLORES

O cimento pode ser leve como a brisa
Como o vento que sopra triste no rosto
Sepultado o cimento canta
Com rosas submersas

Dentro do rígido cimento há um rio
Morto como aquele presente esquecido
Morto como aquele sangue doce que um dia volta
Vivo como um bordado de flores

Sentado como quem rega um jardim
Vou costurando o meu passado
Contemplando a vida que continua
Gota a gota nas pegadas
Riso a riso nas lágrimas esquecidas

A canção antiga de leve volta
Beija o rosto, acaricia
Nas lembranças teu sorriso canta
E num abraço me rega a vida

Sei que a carne de outrora é rio
Que as mãos são delicadeza
E que a surpresa da tua chegada
Agora é infinita

Mas de surpresas se faz a vida
E é amamentando que se lambe a cria
É na toalha que envolve o corpo
Que o amor se pronuncia...

Na janela de um antigo prédio
A memória te traz infinda
Sorriso leve, aceno breve
Da sacada tu me traz a vida

Meu sangue é semente de uma árvore
Antiga. Plantada por teu rio
Se não estás mais, não chores,
Em mim estarás ainda.


(Para minha sempre Avó)

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

(foto:Marcia Monjardim/manip. e corte: Tathi Treuffar)
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AINDA
Como chegaste
Se ainda não te vi
Penetraste meu sangue
Nas palavras que
Ainda não conheci
Como entraste
Tão fundo
Dentro de meu mundo
Se as ondas ainda não
Bateram aqui...


domingo, 27 de setembro de 2009

DESEJOS DE ACALANTOS

Música que arrebata a alma num coração de pedra e sal
Sempre essa muralha a pertencer ao esquecimento de sonhar
Quero o êxtase de alma que flutua, coração no pensamento,
Tilintar de sinos ao vento, a gente rodopiando no tempo...

Sempre esta dádiva acorrentada? Regalo de leite ao léu?!
Quero o céu das virtudes boas em volta do meu ser,
Numa dança leve de entorpecer... As más vizinhas nas entrelinhas
Podem gozar os momentos-pãs! Nada é errôneo ou desonesto

Quando o gesto é cálido... morno... implorante de sussurros sãos!
Estou ávida de amores-flores, bênçãos-rios, areias-luares!
Quero pares de idéias, ventos, pensamentos-pássaros!
Boca transparente de corações e línguas estrangeiras...

Só quero a vida-verso que ecoa por trás das fontes
O rio-vida que permeia por baixo das vazantes frias
A semente-terra que habita meu delicado ser exótico!
Imploro-te por Galileus e Galiléias, terras em promessas de Avatáres!

Sou a nua lua do teu pensamento-flor e é no licor que habita meu sangue,
Que o delicado veneno de estrelas fabrica a seiva que me cobre...
Me descobre desse manto feito de pecados duros, cartolas ao vento,
Quero o alento puro de almas que se piscam, ruborizadas pelos segredos compartidos!

Ah, terna manhã de alma... Me beije o ar que me falta quando murmuro meus desejos de acalantos
Sou o branco dessa névoa que me cobre, a canastra de Pandora com seu segredo de estrelinhas...
Meu pensamento é o néctar de minha língua peregrina, a romaria dessa aventura sem enredos,
Mas de sinas, boas de cantar... Meu lar é esta terra que cobre rios, os navios são as estradas,
Por onde de pés descalços me banho na certeza de um sonhar!

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

QUANDO AMANHEÇO PRA DENTRO DE MIM

No silêncio da tua espera
Amanheço pra dentro de mim
Sol de meio-dia
Areia quente boa de deitar
Um mar em mim
Salgado
Chega-me doce a boca
É macio morar nesse lago
Onde meus cisnes sempre voltam
Aqui por dentro os amigos moram perto
E sempre desperto ao mirar meus olhos claros
Enquanto você não volta
Já sou outra, outra fase, outra atitude,
Outra latitude de mim se espalha no ar
Aqui não há soninhos da tarde,
Porque tudo está desperto
E bem perto da minha vontade
Por isso não faço alarde
Nem a tarde me arde,
Me rasgando, porque está tudo costurado,
Amarrado em rapel
Escalo minhas colinas
Por puro prazer de me desvendar
Subo, desço, me balanço,
E até pulo quando quero me soltar.
Enquanto vivo por aqui
Toda a minha criação
É real e possível
E só por isso te digo:
Que bom que você não veio!

sábado, 15 de agosto de 2009

ENTRE PEDRAS E ROSAS

Ainda estou nas pedras e nas rosas
nas palmas que não abracei
nas palavras que não proferi

Ainda estou por aqui
embaixo do céu enorme faiscante
esperando um sinalzinho teu

Não vi teu colo
Nem suas mãos
Não senti teu coração pulsando...
Só a casca sagrada

Inerte, preparada
vestida de flores
e batom rosa

Faltou um abraço derradeiro
e verdadeiro
Um olho no olho aberto
Um eu te amo de idades antigas e eternas

Uma frase tua que eu pudesse entender...
Uma mão minha que pudesse te conduzir
ao desconhecido e te proteger
Ou te reter...

quarta-feira, 29 de julho de 2009

A CANÇÃO

Festa da Felicidade

(Celebration of Happiness)

Denise Reis e Tathiana Treuffar

Canção apresentada para o Dalai Lama

em Albany, USA, em maio de 2009.

Voz: Denise Reis

Violão: Marcelo Nami

Percussão: Marcos Suzano

sábado, 13 de junho de 2009

FESTA DA FELICIDADE

Olhos de fogo
Irradiando luz
Festa da felicidade
No peito quente
Brilho no olhar
Sorriso difícil de fechar
Alegria de viver
Queria agradecer
A sorte
A boa morte
Aos bons presságios
À divina proteção
Ao salto no escuro
Ao grito bom do tempo
A tua presença
Diante da minha
Dança boa de rodar
De traçar, de cantar,
De querer
Meu girassol de amor!

domingo, 7 de junho de 2009

CIRANDA DAS DIVINDADES

Mantenho-me coesa na graça de me ser
única, estrela fabricada no
melhor açúcar!
Mantenho-me nos trilhos ou em cima de
uma nuvem, onde Anauel vestido
de pássaro da luz, me guia como
um brinquedo.
No meu dedo, a metonímia
de uma mão maior, me pega no
colo e explica
"as verdades" da minha alma.
Do outro lado, a grande mãe,
que agora sei, compadecida e
grande advogada, do outro lado,
ela me aninha e me embala,
depois sussurra-me um presente
que não posso te contar...
por ser demasiado meu
e divinamente nosso.
Anauel é uma criança que ri dentro dos
meus olhos
mostrando-me que o caminho
de pedras não é duro pra
sempre.
Nas mãos deste anjo, meu par, pedras
são pássaros e o caminho que
eu julgava deserto é um lindo
lago onde posso me deitar.
Do céu caem-me pétalas de rosas,
como se fossem purpurina, ou confete
de festa. Afrodite é quem as lança
convidando-me a mais uma dança!
Eu me entrego toda inteira, bebo
a taça em grandes goles, tenho
o mar e as estrelas imersas no
meu sangue. Netuno me abre
os mares, Oxóssi me ensina a lançar
a flecha, Iemanjá me beija a face,
doce como a melhor amiga.
São Pedro me abre as portas,
São José me indica a passagem,
onde a verdade de minha memória infantil,
estará ao alcance de minha mão.
Depois me sorri com olhos de avó.
Buda medita comigo. Ganesha me dá
um banho de cheiro com sua tromba sagrada.
Santo Expedito mostra-me que nada é impossível,
São Longuinho, que tudo está por ser encontrado.
São Cosme e Damião brincam na varanda
das minhas idéias. Santa Terezinha
abre as cortinas dos palcos para as
minhas estréias. Pã, toca sua
flauta e me oferece vinho. Fadas,
gnomos e ninfas dançam em minhas
pupilas. O divino menino azul, da
Índia me sopra incenso,
afastando-me das más lembranças e
trazendo-me para mais perto de
mim.
São Jorge vence o dragão em minha
frente. E em seu cavalo me convida
a um passeio. Em meus dedos
prendo as crinas do corcel de tão
nobre cavaleiro. Depois me ensina
a força da invisibilidade (para
quando for necessária). E na coragem
desses guerreiros me espelho a cantar
de novo minha vida.
Mantenho-me coesa,
na graça de me ser única.
Estrela fabricada no melhor açúcar!

sexta-feira, 5 de junho de 2009

VENTO ENCARACOLADO


O geladinho dessa tarde entrou tão calminho pela minha janela.
Parecia um anjinho de cabelos encaracolados me soprando um beijinho.
Chegou de mansinho com seus dedos de harpa, fez dançar as cortinas,
Trazendo seus raios de sol para os meus cabelos,
E me abraçou o dia!

Depois com sua flecha mansa, de Bem-te-quero, meu anjinho dourado,
Fez nascer o sol dentro de mim! Então se despediu sem saudades,
Num sorriso tão maroto que eu guardei sua bagagem no armário...

sexta-feira, 29 de maio de 2009

(Foto: Tathi Treuffar)

SOBRE INFÂNCIA E A PONTE QUE ROMPEU EM MIM

Era um fio dourado, tão bem costurado que me levava ao paraíso das delícias infantis.
E mesmo depois, era tão certo, como sair do labirinto do Minotauro, com a certeza do novelo.
Não era nem preciso pedir pra ela voltar inteira e abraçada, nas carícias de avó, na imaginação tão perfumada.
Mas em algum ponto dessa encruzilhada o fio se rompeu.
E hoje sinto e sei que não tem volta. Agora é outro eu.
Ela ficou lá, ilhada em Avalon ou outro idílio dos Deuses.
Mas a passagem se perdeu. Posso mirar de longe o semblante da criança que fui.
Mas não sou mais. Nem sombra me veste. A criança ficou do outro lado da ponte.
E sem saudades, me esqueceu.
Eu aqui, às vezes ainda procuro a ponte que possa me içar de volta pro meu colo infantil.
Mas sinto, que esse novo personagem, não tem saudade, porque não sabe mais o que é deixar de ser.
Simplesmente, não tem histórico, digitais. Está avulso, como cavalo novo. Nasceu agora e já adulto.
Tão sério e amargo, tão fechado em redomas. Tão livre na sua nova vida. Mas perdido, como em amnésia.
Como espírito sem corpo. Ou seria o contrário?
Algo se rompeu entre o antes e o agora. Minha infância é outro-eu.
Tão longe que já não sinto como parte de mim. Personagem de outra história...
A máscara que visto agora é tão nova que me parece sem rosto.
E no entanto às vezes sufoca...

quarta-feira, 27 de maio de 2009

(Imagem: Autoria Desconhecida)

BEIJO DE SOL
Hoje o sol me beijou mais cedo,
se achegou sem medo,
num raio de abraço
tão quente,
que era a própria vida
querendo me beijar.
Sorri e meus lábios eram puro girassol-estrelado,
como se na noite o sol em cada estrela se abrisse pro mundo.
Hoje meu destino sentou na minha estrada
e sorrindo me abriu portas.
Na minha frente amplos caminhos,
amplas possibilidades de manhãs e tardes quentes,
e eu abri meus braços e era a alma
que eu abria, e ela ainda quem sorria,
neste dia, onde o possível era só
o que existia...

sexta-feira, 15 de maio de 2009

MONALISAS

Enigmático teu sorriso
Despertando Monalisas em mim...

Na tela da manhã que nasce
Sou um Leonardo da vida

Dalí do parque Guell,
Gaudí meu gládio
Pintando de Picasso
Os girassóis dos seios teus

Klee em mim
Quando Miró seus olhos
A echar de menos tua tez espanhola

Munch de admiração
Quando prostituta
Teu can-can me enloutrese

Não Degás de mim
A tua bailarina
Senta pro flash
"Klimt" e te roubo O Beijo

Na bufônica máscara
Que me Ênsor
Eu-Pensador
Planto as Ninféias
E me visto de Monet

quinta-feira, 14 de maio de 2009

MARESIA

A maresia me inebria quando, pingente de sal,
me oferece a alma alimento. Sinto no rosto
a valsa de vento, um alento a um espírito imortal.
O mar incorpóreo beija-me as pálpebras depois se despede.
Em sorrisos minha entidade canta, entoada nesta prece.

Lá ao longe a solidão escura abraça o mar e vagueia.
Adivinho as ondas sussurrantes e a cumplicidade da areia.
Entorpeço-me na ausência da espuma transformada em mel.
Sem estrelas a noite acaricia as confidências deste menestrel.