sexta-feira, 29 de maio de 2009

(Foto: Tathi Treuffar)

SOBRE INFÂNCIA E A PONTE QUE ROMPEU EM MIM

Era um fio dourado, tão bem costurado que me levava ao paraíso das delícias infantis.
E mesmo depois, era tão certo, como sair do labirinto do Minotauro, com a certeza do novelo.
Não era nem preciso pedir pra ela voltar inteira e abraçada, nas carícias de avó, na imaginação tão perfumada.
Mas em algum ponto dessa encruzilhada o fio se rompeu.
E hoje sinto e sei que não tem volta. Agora é outro eu.
Ela ficou lá, ilhada em Avalon ou outro idílio dos Deuses.
Mas a passagem se perdeu. Posso mirar de longe o semblante da criança que fui.
Mas não sou mais. Nem sombra me veste. A criança ficou do outro lado da ponte.
E sem saudades, me esqueceu.
Eu aqui, às vezes ainda procuro a ponte que possa me içar de volta pro meu colo infantil.
Mas sinto, que esse novo personagem, não tem saudade, porque não sabe mais o que é deixar de ser.
Simplesmente, não tem histórico, digitais. Está avulso, como cavalo novo. Nasceu agora e já adulto.
Tão sério e amargo, tão fechado em redomas. Tão livre na sua nova vida. Mas perdido, como em amnésia.
Como espírito sem corpo. Ou seria o contrário?
Algo se rompeu entre o antes e o agora. Minha infância é outro-eu.
Tão longe que já não sinto como parte de mim. Personagem de outra história...
A máscara que visto agora é tão nova que me parece sem rosto.
E no entanto às vezes sufoca...

quarta-feira, 27 de maio de 2009

(Imagem: Autoria Desconhecida)

BEIJO DE SOL
Hoje o sol me beijou mais cedo,
se achegou sem medo,
num raio de abraço
tão quente,
que era a própria vida
querendo me beijar.
Sorri e meus lábios eram puro girassol-estrelado,
como se na noite o sol em cada estrela se abrisse pro mundo.
Hoje meu destino sentou na minha estrada
e sorrindo me abriu portas.
Na minha frente amplos caminhos,
amplas possibilidades de manhãs e tardes quentes,
e eu abri meus braços e era a alma
que eu abria, e ela ainda quem sorria,
neste dia, onde o possível era só
o que existia...

sexta-feira, 15 de maio de 2009

MONALISAS

Enigmático teu sorriso
Despertando Monalisas em mim...

Na tela da manhã que nasce
Sou um Leonardo da vida

Dalí do parque Guell,
Gaudí meu gládio
Pintando de Picasso
Os girassóis dos seios teus

Klee em mim
Quando Miró seus olhos
A echar de menos tua tez espanhola

Munch de admiração
Quando prostituta
Teu can-can me enloutrese

Não Degás de mim
A tua bailarina
Senta pro flash
"Klimt" e te roubo O Beijo

Na bufônica máscara
Que me Ênsor
Eu-Pensador
Planto as Ninféias
E me visto de Monet

quinta-feira, 14 de maio de 2009

MARESIA

A maresia me inebria quando, pingente de sal,
me oferece a alma alimento. Sinto no rosto
a valsa de vento, um alento a um espírito imortal.
O mar incorpóreo beija-me as pálpebras depois se despede.
Em sorrisos minha entidade canta, entoada nesta prece.

Lá ao longe a solidão escura abraça o mar e vagueia.
Adivinho as ondas sussurrantes e a cumplicidade da areia.
Entorpeço-me na ausência da espuma transformada em mel.
Sem estrelas a noite acaricia as confidências deste menestrel.