(Foto: Tathi Treuffar) SOBRE INFÂNCIA E A PONTE QUE ROMPEU EM MIMEra um fio dourado, tão bem costurado que me levava ao paraíso das delícias infantis.
E mesmo depois, era tão certo, como sair do labirinto do Minotauro, com a certeza do novelo.
Não era nem preciso pedir pra ela voltar inteira e abraçada, nas carícias de avó, na imaginação tão perfumada.
Mas em algum ponto dessa encruzilhada o fio se rompeu.
E hoje sinto e sei que não tem volta. Agora é outro eu.
Ela ficou lá, ilhada em Avalon ou outro idílio dos Deuses.
Mas a passagem se perdeu. Posso mirar de longe o semblante da criança que fui.
Mas não sou mais. Nem sombra me veste. A criança ficou do outro lado da ponte.
E sem saudades, me esqueceu.
Eu aqui, às vezes ainda procuro a ponte que possa me içar de volta pro meu colo infantil.
Mas sinto, que esse novo personagem, não tem saudade, porque não sabe mais o que é deixar de ser.
Simplesmente, não tem histórico, digitais. Está avulso, como cavalo novo. Nasceu agora e já adulto.
Tão sério e amargo, tão fechado em redomas. Tão livre na sua nova vida. Mas perdido, como em amnésia.
Como espírito sem corpo. Ou seria o contrário?
Algo se rompeu entre o antes e o agora. Minha infância é outro-eu.
Tão longe que já não sinto como parte de mim. Personagem de outra história...
A máscara que visto agora é tão nova que me parece sem rosto.
E no entanto às vezes sufoca...